Red Bull® reduz a percepção da incapacitação alcoólica
Nos últimos anos, a combinação do álcool com bebidas energéticas (como o Red Bull®) tem se tornado cada vez mais popular entre adolescentes e adultos jovens. Os usuários relatam freqüentemente redução na sonolência e sensações aumentadas de prazer. Na edição de Abril da revista Alcoholism: Clinical & Experimental Research, pesquisadores brasileiros apresentam os resultados do primeiro estudo científico controlado dos efeitos da combinação do álcool com o Red Bull®. Os resultados mostram consideráveis discrepâncias entre as percepções e as medidas objetivas das capacidades dos indivíduos estudados: embora a combinação reduza as sensações de cansaço e sonolência, as capacidades reais encontram-se significativamente prejudicadas.
“No Brasil, como em outros países, os jovens acreditam que o Red Bull® e outras bebidas energéticas evitam a sonolência causada por bebidas alcoólicas, aumentando a sua capacidade de dançar a noite inteira”, explicou Maria Lucia O. Souza-Formigoni, PhD, professora associada do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo, Brasil, que coordenou o estudo. Ela acrescenta: “Na verdade, muitas boates oferecem esta mistura entre os seus coquetéis”. Num estudo prévio avaliando o consumo de bebidas energéticas entre os brasileiros, a professora Souza-Formigoni disse que os usuários informaram: aumento da felicidade (38%), euforia (30%), nenhuma sensação (27%) e aumento do vigor físico (24%). Portanto, não está claro se os efeitos das bebidas energéticas são decorrentes das suas capacidades em diminuir os efeitos depressores, ou aumentar os efeitos excitatórios produzidos pelo álcool, ou ambos.
“Este estudo parece nos mostrar que o uso de bebidas energéticas poderia predispor os indivíduos a consumirem doses mais elevadas de álcool, mascarando os seus efeitos depressores – ou ao menos diminuindo a percepção destes efeitos” destaca Roseli Boerngen de Lacerda, PhD, professora associada do Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de Paraná, Brasil, que colaborou na realização do estudo.
Participaram do estudo 26 voluntários do sexo masculino que foram divididos casualmente em dois grupos que receberam as doses de 0,6 g/kg (n=12) ou 1,0 g/kg (n=14) de álcool. Todos os participantes foram submetidos a três sessões experimentais durante sete dias, onde ingeriram o álcool sozinho, a bebida energética sozinha ou a combinação de álcool e a bebida energética. Em cada sessão, os pesquisadores registraram as sensações subjetivas de intoxicação, assim como medidas objetivas da coordenação motora, concentração de álcool na respiração e tempo de reação visual.
Comparado a ingestão de álcool sozinho, a combinação de álcool e Red Bull® reduziu significativamente as sensação subjetivas de dor de cabeça, fraqueza, boca seca e prejuízo da coordenação motora. Entretanto, o Red Bull® não reduziu significativamente os prejuízos causados pela ingestão do álcool em medidas objetivas da coordenação motora e tempo de reação visual.
“Existem dois pontos chaves” destaca Souza-Formigoni. “Embora a ingestão combinada diminua a sensação de cansaço e sonolência, medidas objetivas indicam que ela não é capaz de reduzir os efeitos prejudiciais do álcool na coordenação motora. Em outras palavras, a pessoa está “bêbada”, mas não percebe que está. O segundo ponto importante é que muitas pessoas utilizam as bebidas energéticas para reduzir o sabor desagradável de algumas bebidas alcoólicas, podendo aumentar perigosamente a quantidade e a velocidade de álcool consumido.”
“As implicações dos resultados obtidos,” adiciona Boerngen, “são que esta associação de álcool e bebidas energéticas é mais prejudicial do que benéfica, ao contrário do que muitos consumidores acreditam. Especialmente pelo fato desses indivíduos que combinam álcool e bebidas energéticas não perceberem o grau de incapacidade em que se encontram, aumentando os riscos de diversos acidentes, como por exemplo, acidentes automobilísticos.”
“O álcool não afeta somente a coordenação motora, mas também a capacidade de tomar decisões, uma vez que ele afeta uma importante área do cérebro chamada de córtex pré-frontal”, explica Souza-Formigoni. “Motoristas embriagados são perigosos não somente por apresentarem reações mais lentas, mas também porque a sua capacidade de avaliar os riscos a que eles serão expostos encontra-se prejudicada. As pessoas precisam entender que o fato de se “sentirem bem” não indica necessariamente que elas não estão afetadas pelo álcool. Portanto, elas nunca devem dirigir após consumirem álcool”.
As pesquisadoras enfatizam a necessidade de mais estudos, avaliando os efeitos da combinação de doses mais elevadas de álcool e bebidas energéticas, o que Suza-Formigoni já vêm realizando em modelos animais. “Nós estamos atualmente testando separadamente os efeitos de diferentes substâncias presentes nas bebidas energéticas, como a cafeína e a taurina, buscando determinar quais destas substâncias seriam responsáveis por esta interação com o álcool.”
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Colaboração de Rui Daniel Prediger, PhD, pós-doutorando no Dept. de Farmacologia - UFSC











